sábado, 5 de abril de 2014

Vermelho Amargo e uma figura de linguagem que pesa em cena


Bartolomeu Campos de Queirós está em cena.
A opção cênica impressa em  Vermelho Amargo por Diogo Liberano é de por o texto como núcleo irradiador de todo o espetáculo, que assisti no Fringe, Mostra Paralela do Festival de Teatro de Curitiba 

O cenário possui uma estrutura retangular com um tecido vermelho em cujo espaço contracenam, ora como narradores, ora dramatizando as ações, Daniel Carvalho Faria e Davi de Carvalho; ao lado, em uma cadeira, Luiz Paulo Barreto, realçando ainda mais a dimensão textual, pois, atua, unicamente, verticalizando o preciosismo lírico da literatura. 

Enfrenta-se o texto no que ele tem de voltagem metafórica, distribuídos em períodos repletos de palavras preciosas, de construções bem elaboradas, mas afeitas, porém, ao ritmo da leitura, ao compasso do olhar na página para saborear, sem a pressa inerente ao palco, sem a necessidade de se fazer ouvir e de pronunciar bem. 




Optou-se, figurino e cenário, pelo mergulho no símbolo. Fala-se de uma madrasta. Em como ela partilhava as fatias do tomate no almoço. A avareza de afeto. As pontas do retângulo aveludado se erguem e materializam o tomate tantas vezes evocado; outras, no porão em que desejos secretos se consumiam.

A beleza do texto, exponenciada pela encenação, não conseguiu dirimir um problema sério da transcrição de literatura para a cena; o caso é que a metáfora, figura de linguagem base para Campos de Queirós, se transmuta bem no palco como uma boa coadjuvante, amplificando outros sentidos, mas não como linha mestra entre os intérpretes e a plateia, por uma questão muito elementar: o tempo que se requer para compreender a associação, o floreio e a beleza escrita, dissipasse numa relação performática.

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