domingo, 9 de setembro de 2012


FNT/ Guaramiranga

A sombra de um discurso que uniformiza o que não somos

Para quem não conhece o Festival Nordestino de Teatro (FNT) de Guaramiranga, no Ceará, na manhã seguinte às apresentações, dos espetáculos selecionados para a Mostra Nordeste, há sempre um debate ao qual, além do grupo que apresentou, que conversa sobre o seu processo criativo, há, convidados pela organização, debatedores, em geral, professores universitários, diretores, críticos, curadores.

Ouvindo a conversa hoje pela manhã, em que, sem que eu faça um exame detido do que houve lá em termos de debate, mas transcendendo o elemento factual, me vi a pensar que, de certa forma, há meio que uma exigência ética que padroniza o discurso de quem faz teatro: tudo é colaborativo.

Mas, descascando o verniz uniformizante, que dá legitimidade a uma prática, a do teatro de grupo, no que seria uma velada oposição a um teatro, digamos, construído a partir de espetáculos, e não resultado de uma pesquisa, é possível perceber que, na prática, a realidade é bem outra.

Outro dia comentei com amigos: somos um povo imperial – além de esperarmos por Dom Sebastião, resoluções fáceis e instantâneas para problemas e questões complexas – reproduzimos, em menor escala, o papel da cerimônia do beija-mão; ocasião em que nos colocamos na fila (o funcionário de uma empresa que comenta com um colega uma futilidade envolvendo um chefe, só para exibir que o rei lhe pronunciou o nome) ou estamos no final dela, recebendo, reverente, os cumprimentos.

É algo sobre o qual me debruçarei depois. É um assunto que rende muita discussão.

O que quero dizer é que, maquiado ou encabestrado pelas circunstancias contextuais da época, de alguma maneira, continuamos a reproduzir, o sistema que sempre vigorou no teatro brasileiro: o da companhia que tinha um dono, misto de empresário e ensaiador, e de um primeiro ator ou primeira atriz, esta, muitas vezes, casada com o patrão.

Não temos mais hoje em dia práticas  como nos tempos de Procópio, sob cuja memória paira a lenda de que riscava um círculo de giz no palco, demarcando a área a qual os demais não deveriam se aproximar.

No entanto, mesmo companhias regulares, grupos de pesquisa, possuem, sim, os seus primeiros atores ou atrizes – em geral, curiosamente, namorados ou namoradas dos diretores – que, simplesmente, traçam um círculo de giz imaginário que os impede, por exemplo, de não ter o principal papel numa montagem.

Por falar em casais, dentre os principais grupos de teatro no Brasil, qual é o que você conhece em que há o casamento do diretor com a primeira atriz?

Ainda há muito o que falar sobre a partir do tema.
Retomarei-o. 



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