segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Jogar e brincar num mesmo verbo

Não é à toa que em algumas línguas, como francês e inglês, o verbo "brincar" e "representar" são uma só palavra. As crianças bem o sabem disso. E foi essa a aposta do grupo Pavilhão da Magnólia. Unir a capacidade inata e imaginativa de cada criança para compor em A Festa , espetáculo que se baseia no romance Luna Clara e Apolo 11, da escritora Adriana Falcão, uma montagem lúdica e inteligente, apresentado, domingo que passou, na Mostra Ceará, dentro da programação do Festival Nordestino de Teatro, de Guaramiranga.

A pedra de toque da encenação foi compreender a capacidade imaginativa de seu público e não ter receios de fazer uma montagem com várias trocas de personagem, alternância entre narração e dramatização, revezamento de personagens, além de não amaneirar uma história que se bifurca em duas, enfrentando o que poderia ser uma complicação de entendimento da história com uma abordagem criativa.

Neste sentido, a direção de Nelson Albuquerque, que também está em cena, dá uma aula de como é possível ser didática sem ser chata, sem ser professoral, ao mostrar os elementos cênicos que são representativos dos personagens, algo avatares de games: as lâmpadas que se transformam em cachorros; o colete que simbolizava o personagem Doravante, o balão que representava o cavalo Equinócio, os óculos, o colar verde e o timbre tagarela do papagaio Pilhério, e assim por diante. 

Tal recurso revelou-se bastante funcional à medida em que, pelo andar da narrativa, uma história intrincada, com duas subtramas se cruzando, a da busca do jovem Aventura pelo seu amor, Doravante; de Luna Clara, filha destes, em busca de seu amor, Apolo Onze. Assim, com a opção pelo o revezamento de personagens, que partiam de bases comuns para os papéis, o que trouxe uma ótima dimensão de ludismo, entre o próprio elenco, com uma atuação uniforme, bem pontuada e se não tivessem um rigor a marcação e as passagens com as viradas dos papéis teria sido comprometida, algo que não ocorreu.

 Ou seja, vimos no palco, em dois movimentos simultâneos, o que foi a base essencial do espetáculo: um jogo em cena, entre os atores, apropriando-se de uma bela história, que a devolveu em forma de uma grande brincadeira, uma festa,  que tinha de ser apreendida pela plateia.

Destaque ainda para a iluminação - a entrada em cena é apoteótica, com o canhão de luz colorido, além do excelente uso das projeções: um exemplo bem pontual aqui é da ponte, essencial para a virada da narrativa, pela sua construção e desconstrução: como colocar isto em cena? O telão com a própria palavra "Ponte" escrita e no qual as palavras sumiam foi um achado.

Uma encenação que entende a criança como um espectador inteligente e imaginativo .  

                                                                                                          (foto de Bruno Soares)

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